O novo disco do Queens of the Stone Age

É interessante notar como a reputação de Josh Homme – e do Queens of the Stone Age por tabela – cresceu nos últimos anos. Quer dizer, o guitarrista/vocalista possui respaldo da crítica desde os tempos de Kyuss (banda pioneira do stoner rock), e sua banda principal usufrui de um respeitável sucesso comercial desde Songs For the Deaf (2002). Mas recentemente o músico parece ter ganhado um status quase que de cânone do rock moderno. Isso costuma trazer uma até compreensível desconfiança (ou birra mesmo) por parte de fãs de música mais aficionados, mas há algo que difere Homme de outros músicos ultra-adulados – como seu amigo Dave Grohl: seu hype se sustenta. Afinal, não é qualquer um que tem discos como Welcome to the Sky Valley (com o Kyuss) e Rated R (com o QOTSA) no currículo – isso pra não falar da estreia auto-intitulada da última, que ainda não possui o status que merece.

Villains, novo álbum do grupo liderado pelo guitarrista, aparece quatro anos depois de …Like Clockwork, que chegou ao topo da parada norte-americana, algo inédito para a banda. Nesse meio tempo, a banda se ocupou com uma longa turnê, onde realizaram quase duzentos shows – só no Brasil vieram três vezes nesse período. E Josh, que produziu um álbum solo de Iggy Pop (e também saiu em turnê pra promovê-lo), também voltou parcialmente aos holofotes, ainda que por meio de uma tragédia, quando um ataque terrorista vitimou mais de cem pessoas em um show do seu projeto paralelo Eagles of Death Metal. O guitarrista, que nesse grupo toca bateria, não estava presente na ocasião – ele não participa das turnês da banda – mas obviamente ficou abalado após tudo que aconteceu. Ainda que não seja algo tão predominante, referências ao ataque aparecem em algumas letras nesse registro.

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Em entrevistas, foi anunciado que esse seria um disco mais “dançante” – ainda que ao mesmo tempo “dark” – com o anúncio de Mark Ronson (Amy Winehouse, Bruno Mars) como produtor se encaixando perfeitamente com essa afirmação. Tendo isso em mente, talvez possa-se dizer que o lançamento de “The Way We Used to Do” como primeiro single tenha sido algo acertado. Não que seja mais do que uma mera musiquinha agradável, mas trata-se de uma faixa que praticamente resume o que foi dito sobre o álbum, com uma atmosfera um tanto sombria (e já um tanto característica da banda) aliada a uma batida mais despretensiosa e feita para dançar – ou algo próximo disso. Mas o disco acaba indo além dessa sonoridade, apresentando diferentes faces do hoje quinteto – a maioria delas já conhecidas.

Tanto “Feet Don’t Fail Me” quanto “Domesticated Animals” retomam um pouco a abordagem do single já citado, com a primeira puxando para algo mais “funkeado” – se é que dá pra dizer que algo nesse disco seja realmente “funkeado” – e novamente sem muita pretensão, e a segunda para o lado mais “dark”, ainda que com uma letra meio bobinha. Mas também há espaço para traços de glam rock setentista (Bowie, T-Rex), que já eram bem presentes no álbum anterior. Como maior exemplo disso, têm-se “Un-Reborn Again”, um dos principais destaques do disco, ainda que um pouco mais extensa do que deveria. E falando em influências do grupo, poucas vezes o apreço de Homme por hardcore ficou tão explícito quanto na rapidinha (porém mediana) “Head Like a Haunted House”, que lembra bandas como Dead Kennedys e Black Flag, ainda que com uma sonoridade mais adequada aos dias de hoje – e muito menos tosca, afinal, a produção aqui é de primeira.

Bem ou mal, alguns dos melhores momentos do disco aparecem quando a banda demonstra alguns de seus principais – e novamente, já conhecidos – trunfos. Enquanto “Hideaway” acerta em colocar os teclados mais a frente na mixagem, “The Evil Has Landed”, outra música meio longa, possui um riff bem ao estilo Tony Iommi, mas que graças ao timbre diferenciado (e único) das guitarras, não soa apenas como mera emulação – algo infelizmente de praxe na maioria das bandas “stoner” atuais. Destaque também pra o final mais acelerado e totalmente diferente do resto da canção, mas que acaba funcionando. E tanto “Fortress” quanto “Villains of Circumstance” mostram que Josh Homme ainda é capaz de compor melodias cativantes, ainda que nem sempre tão assimiláveis à primeira vista.

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Vale citar que Villains é o primeiro disco da banda sem nenhum convidado especial, o que não faz lá muita diferença, já que muitas vezes tratava-se de algo estritamente marqueteiro. Também é o primeiro composto com a formação atual – o baterista Jon Theodore só tocou em uma faixa em …Like Clockwork. Talvez não esteja entre os melhores da carreira do grupo. Não chega a ser melhor nem que o disco anterior, na verdade. Mas também não possui nenhuma música que possa ser considerada ruim, e tem tudo para seguir a linha de vendagens dos discos anteriores – talvez até supere, vide o crescimento recente do grupo. Mais uma prova do talento de Josh Homme, que se faz notável mesmo em discos menores (ainda que competentes) como esse.

NOTA: 7

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